Falamos muito sobre o papel que o home office desempenhou na rotina das empresas em 2020. Esse modelo de trabalho, antes visto como um privilégio que apenas algumas companhias estavam acostumadas, foi adotado às pressas como medida para conter o avanço do coronavírus.

Uma pesquisa realizada pela Fortinet, com a colaboração de diretores de TI de 17 países e cerca de 400 companhias privadas e públicas, apontou que 30% das empresas pretendem manter o home office mesmo após o fim da pandemia. Outra informação diz que 3 em cada 10 instituições manterão 50% dos funcionários em trabalho remoto.

Mas apesar do home office ser uma opção interessante e que funcionou para muitas pessoas, a adaptação nem sempre é fácil para todos. Falamos com a Psicóloga Julia Leme, formada pela Unesp de Bauru e especialista em Psicologia Clínica e Orientação profissional e de Carreira, que explicou porquê alguns cuidados são necessários.

Julia Leme, especialista em Psicologia Clínica e Orientação profissional e de Carreira.

Como a pandemia influenciou o comportamento dos profissionais?

“A pandemia trouxe uma quebra brusca na rotina que a gente já estava acostumado. De uma hora para outra fomos arrancados da nossa zona de conforto. Isso acarretou em insegurança, medo em relação a própria saúde e a saúde dos familiares; e também a imaginação de uma possível demissão.

Ninguém estava preparado para essa mudança e nem foi uma escolha. Esse misto de emoções, dúvidas e insegurança, deixou as pessoas perdidas, até que elas conseguissem se adaptar a essa nova rotina.”

O home office se tornou essencial nesse momento que estamos vivendo. Como você define essa mudança de rotina?

“Algumas pessoas adoraram porque não precisariam ficar muito tempo no trânsito e não precisariam se deslocar. Mas pensando a longo prazo a mudança relacionada ao home office veio aliada ao isolamento social. Então não é só deixar de sair para trabalhar, tem também a questão de ficar o tempo todo em casa.

Sem generalizar, para alguns essa mudança de rotina foi positiva. Uma realidade difícil, mas que de alguma maneira impulsionou e que talvez até colaborou em uma decisão de carreira. Mas tiveram os que não se adaptaram, os que preferem sair, que não conseguem se concentrar e não tem privacidade em casa. Porque não é só a gestão do tempo de trabalho, é de toda a casa e família.”

A perspectiva do trabalho remoto gerou insegurança em relação a produtividade. Como essa preocupação pode influenciar nos resultados?

“Somos seres humanos, não somos máquinas, então cada um reage de uma forma diferente. Mas uma coisa é fato, o profissional estressado, com as contas chegando em casa e a insegurança de ser demitido, tem o emocional afetado e não apenas o emocional como também a concentração.

Então as vezes ele está trabalhando, mas o pensamento está em outro lugar e isso com certeza influencia nos resultados. E em contexto de pandemia que o medo e a insegurança estão generalizados, é quase impossível o funcionário não perder a concentração em algum momento, o que aconteceu muito lá no início, quando todo mundo estava improvisando, aprendendo como funcionava.”

Uma estrutura inadequada pode influenciar em questões de psicológicas, gerar exaustão e ansiedade?

“Sim. Se a rotina de trabalho presencial já causava um desgaste, em isolamento social a gente fica ainda mais vulnerável. Então, é possível que essa falta de estrutura acabe potencializando os riscos de exaustão, ansiedade ou depressão.

Isso não significa que o profissional é fraco por cair nessa vulnerabilidade. A estrutura correta é como uma prevenção, tanto a física com; uma boa cadeira, uma boa conexão com a internet, quanto a estrutura de equipe e até a gestão correta do tempo.”

Quais são os sinais de um estágio grave de exaustão, estresse e ansiedade?

“Chega nesse estágio quando o profissional nega o que está sentido, não se desliga do trabalho, está o tempo todo conectado e preocupado. Se a gente para pensar, na nossa sociedade, o descanso não é muito bem visto e isso aconteceu até na pandemia. Vimos coisas como; “aproveite a pandemia para fazer um novo curso”, então até mesmo em meio ao caos, tivemos que ser produtivos.

Os sintomas podem aparecer como insônia ou quando o sono não está sendo reparador. A pessoa fica mais irritadiça, explode por qualquer coisa ou entra em pânico. Tem muitas dores de cabeça, gastrite, dor muscular e só vai tomando remédios sem perceber que isso pode ser uma alerta.”

Quais hábitos podem evitar que os profissionais desenvolvam problemas psicológicos?

“Manter a organização do espaço do home office evita a correria no dia a dia. Estabelecer os horários de trabalho e de descanso, e até as pequenas pausas para tomar água, ajudam a dar esse respiro que o cérebro precisa para voltar mais atento às atividades.

Atividade física é muito importante, a gente esquece do corpo e como estamos nos deslocando menos, acabamos entrando nessa rotina sedentária e isso é ruim tanto para o nosso físico quanto para o emocional. Também o cuidado com o tempo de uso dos celulares e equipamentos eletrônicos.”

Segundo  a especialista nós não conseguimos dar conta de tudo e por esse motivo é importante buscar ajuda de um profissional. Assim é possível passar pelos momentos desgastantes de maneira mais leve e saudável.

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