O surgimento do novo coronavírus (Covid-19) causou medo no mundo inteiro. Tal preocupação se deu pelo grande poder de contaminação e mortalidade do vírus, que se espalhou por todos os continentes. E nesse contexto de crise sanitária, a Gripe Espanhola, que ocorreu há 100 anos voltou a ser mencionada pelas semelhanças com o cenário atual.

A Gripe Espanhola se desenvolveu a partir de uma mutação do vírus que conhecemos como Influenza, responsável pelas gripes comuns. Contudo, não se sabe exatamente o que causou essa modificação, apenas que ela se manifestou pela primeira vez em 1918.

Diferente do que muitas pessoas imaginam a Gripe Espanhola não surgiu na Espanha. Ao que tudo indica ela se originou nos Estados Unidos, sendo disseminada entre os soldados que lutavam na Primeira Guerra Mundial. No entanto, esse nome foi dado pela grande participação da Espanha na divulgação de notícias e informações sobre a pandemia, já que os países que participavam da guerra sofriam censuras e não conseguiam fazer o papel efetivo de informar a população.

Economistas analisaram a recuperação econômica de cidades americanas após o fim da pandemia de gripe espanhola Foto: Getty Images / BBC News Brasil

De acordo com historiadores a Grande Gripe chegou ao Brasil também em 1918, quando o navio inglês Demerara aportou em Recife, Salvador e Rio de Janeiro, trazendo passageiros europeus infectados. Logo a doença se espalhou e em outubro já tinha contaminado pessoas de todos os cantos do país.

As semelhanças entre a Gripe Espanhola e a Covid-19 não estão apenas relacionadas ao poder de contaminação. Algumas coisas que aconteceram naquela época se repetem hoje, mesmo que muitos anos tenham se passado. O primeiro ponto a ser destacado é que durante o surto da Gripe Espanhola muitas pessoas não acreditavam na seriedade e no risco que estavam correndo. No Brasil as autoridades demoraram para tomar atitudes mais rígidas a fim de conter o avanço da contaminação. Na época o sanitarista Carlos Seidl via o isolamento social como uma medida sem eficácia, mas em dezembro de 1918 65% da população já havia sido infectada.

Isso se assemelha muito a realidade da nova pandemia, já que atualmente apesar de existir muita tecnologia, inúmeros meios de comunicação e até redes sociais capazes de informar, com conteúdos atualizados a todo mundo, muitas pessoas ainda acreditam se tratar de um vírus inofensivo, que só acomete pessoas com doenças pré-existentes. Esse pensamento influenciou diretamente comportamentos  e consequentemente interferiu na onda crescente de contaminação.

Receitas consideradas infalíveis também ficaram conhecidas como a cura para a Gripe Espanhola. As pessoas utilizavam tônicos, tabaco, cachaça e até ingeriam sal de quinino como forma de prevenir o vírus, tudo sem comprovação.

Falando no contexto da Covid-19, não existe um remédio para tratamento e possíveis vacinas ainda estão sendo estudadas. Apesar disso, os medicamentos Cloroquina e Hidroxicloroquina foram liberados como sendo eficientes contra doença. Mas segundo as autoridades da área da saúde, não existe comprovação de eficácia e sim alguns problemas que as pessoas podem desenvolver com o uso.

Durante a Gripe Espanhola que durou de 1918 até 1920, estima-se que 50 milhões de pessoas tenham morrido no mundo todo. Já no Brasil o número de mortos chegou a 35 mil.

Durante a pandemia pessoas se aglomeram na rua 25 de março. Foto: Nelson Almeida

Fazendo um panorama com o cenário do coronavírus, em todo o mundo o número de contaminados já passa de 10 milhões e de mortos 505 mil. São índices extremamente altos se levarmos em consideração que o surto da Grande Gripe durou dois anos e a pandemia atual um pouco mais de cinco meses.

Na época da Gripe Espanhola a medicina ainda estava caminhando para o desenvolvimento, as pessoas ainda não tinham muitos meios de informação e estavam sujeitas a cair em achismos. No presente, temos uma ciência evoluída e a todo momento é possível saber o que acontece  no mundo por meio da internet.

O mais intrigante na relação entre as duas pandemias, é que a quantidade de mortos pelo coronavírus no Brasil já superou os índices de 100 anos atrás, são mais de 59 mil óbitos. Isso evidencia que mesmo com toda a tecnologia e informações disponíveis, ainda é preciso utiliza-las de forma consciente e como verdadeiras aliadas.

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